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abr 30, 2021
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Jogador x Treinador – O sucesso por trás de "Faker" e Brady

Quem é Faker

O desenvolvimento de Brady

O impacto sutil de "Kkoma"

O domínio defensivo de Belichick

Jogador x Treinador – O sucesso por trás de "Faker" e Brady

Em seu mais recente artigo para a Pinnacle, o historiador de eSports "Thorin" examina a relação entre treinadores e jogadores, fazendo um comparativo de "Faker”, lendário jogador de LoL, e seu treinador "Kkoma" com Tom Brady, renomado quarterback do futebol americano, e Bill Belichick, seu treinador de longa data.

De acordo com grande parte dos fãs e especialistas, existe um consenso de que o mid laner Lee "Faker" Sang-hyeok e o quarterback Tom Brady são os maiores de todos os tempos (G.O.A.T., do inglês Greatest of All-Time) nas suas modalidades (League of Legends e futebol americano, respectivamente). Graças ao sucesso de ambos, suas equipes também podem reivindicar este elevado status. No entanto, nenhum jogador vence sozinho em um esporte de equipe.

Além de vencerem o maior número de campeonatos mundiais em suas áreas de atuação, os dois também compartilham o fato de terem conquistado praticamente todos esses prêmios com a ajuda de seus treinadores Kim "kkOma" Jeong-gyun e Bill Belichick, extremamente bem-sucedidos e reconhecidos. Na verdade, dos dez títulos que os dois jogadores têm juntos, apenas um (o mais recente de Brady) foi conquistado sem o treinador citado anteriormente.

Enquanto Brady tem uma vitória à frente de Belichick, a situação de "Faker" é oposta, uma vez que seu ex-treinador "Kkoma" agora lidera a DAMWON, equipe considerada por muitos a favorita para vencer o próximo campeonato mundial e que ainda mantém em seu núcleo o elenco que venceu o título do ano passado.

Se "Kkoma" garantir a liderança em títulos de campeonatos mundiais, este feito certamente adicionará combustível à falação sobre "quem foi responsável pelo sucesso de quem" e como "Faker" e "Kkoma" foram fundamentais para as carreiras um do outro. Com certeza este tópico foi amplamente discutido depois que Brady assumiu a liderança sobre seu antigo treinador, e muitas conclusões drásticas foram tiradas e projetadas com relação a essa história.

Quem é "Faker"

Entre os dois competidores, "Faker" é indiscutivelmente o melhor jogador quando se trata de seu rendimento individual em comparação com o de sua equipe. Apesar do histórico geral das carreiras de jogadores como "Rookie", da Invictus Gaming, e "Uzi", da RNG, são poucos os que tentam colocar estes jogadores acima de "Faker" ao longo de sua carreira (embora este seja um terreno interessante a ser estudado). Obviamente, "Faker" tem dominado o jogo, sendo amplamente considerado o melhor durante a maior parte de sua carreira. Analisando da maneira mais rigorosa possível, ele provavelmente foi o melhor jogador durante um ano inteiro (2013), apresentando períodos de variação desde então em que teve desempenho semelhante (como foi o caso de 2015).

Ainda que o top laner (jogador da rota superior) Jang "MaRin" Gyeong-hwan tenha recebido o MVP na campanha dominante do Worlds de 2015, que rendeu a "Faker" o título de bicampeão mundial, muitos apontaram que o uso excepcional de "Faker" do campeão Ryze, cravando 5 a 0 em um torneio em que Ryze não era meta e, certamente, não foi usado com sucesso por nenhum outro jogador, além de seu estilo de jogo "vácuo de pressão" efetivamente autossuficiente sem a ajuda do Jungler, foi o que transformou a T1 em uma máquina praticamente imbatível.

Porém, no mundial de 2016, o torneio parecia muito mais focado no esforço de equipe e nas decisões do treinador. Um exemplo é a forma como os Junglers veteranos e novatos estavam sendo revezados, desempenhando um papel fundamental.

O desenvolvimento de Brady

Tom Brady não ganhou o número de MVPs em temporadas regulares que muitos gostariam, especialmente quando comparado com os cinco títulos conquistados pelo rival Peyton Manning. Ele também não foi escalado para o time principal da lista All-Pro da NFL com tanta frequência, outra área em que foi muito menos citado que Manning. Não se trata da dificuldade de defender outros nomes para o posto de melhor jogador além de Brady, mas da falta de popularidade e do enorme afastamento de um número significativo de mundiais, levando a maioria dos analistas a se sentirem desconfortáveis.

Apesar de sua reputação, Brady também não foi um jogador dominante em todas as campanhas de playoffs para os campeonatos mundiais das quais participou. Nos primeiros anos de sua carreira, o quarterback acumulou três anéis do Super Bowl em quatro anos praticamente agindo como um pivô no jogo, encarregado de não cometer erros que afetassem negativamente as chances de vitória do time e permitindo que os outros jogadores do time ganhassem o jogo.

Nos primeiros anos de sua carreira, o quarterback acumulou três anéis do Super Bowl em quatro anos praticamente agindo como um pivô no jogo, encarregado de não cometer erros que afetassem negativamente as chances de vitória do time e permitindo que os outros jogadores do time ganhassem o jogo.

Pode parecer uma linha de pensamento simplista, uma vez que essa é a função de um quarterback na NFL, a menos que o quarterback em questão seja um arremessador fenomenal e/ou tenha que fazer arremessos arriscados para jogadores menos talentosos terem uma chance de vitória. No entanto, o Brady que conhecemos atualmente surgiu apenas depois de suas três primeiras vitórias no Super Bowl. Mais tarde, quando o time trouxe jogadores ofensivos fortes para sua defesa já estabelecida, Brady emergiu como MVP da liga, tornando-se um jogador cujos touchdowns carregavam a equipe na direção da vitória.

Nos anos mais recentes de sua carreira, mais precisamente na última década, ele até mesmo venceu alguns Super Bowls em que protagonizou grandes momentos defensivos, mas foi sua capacidade de pontuar que o tornou tão notoriamente importante para que a equipe pudesse vencer adversários poderosos como Seahawks e Falcons. O que torna a narrativa da carreira de Tom Brady interessante é que ele foi desacreditado por muitos no início, mas acabou trazendo à tona algumas das habilidades que muitos de seus fãs mais obstinados afirmavam ter visto nele o tempo todo.

O impacto sutil de "Kkoma"

Enquanto "Faker" foi a grande estrela da T1 nas vitórias de diversos mundiais, "Kkoma" escalou nomes como "Bang", "Wolf", "Huni" e "Blank" em uma época em que poucos esperavam que esses jogadores tivessem a qualidade necessária para conquistar títulos mundiais. Jogar com "Faker" certamente pode ter ajudado (como sugere a ausência de vitórias dos jogadores citados em torneios de nível semelhante sem a presença de "Faker"), mas o treinador estava focado em colocar esses jogadores no jogo, inserindo-os na escalação inicial e treinando-os para que pudessem jogar no estilo icônico do time de atacar pelas costas, baseado no controle da visão do mapa.

A estratégia de "Kkoma" para a fase de Jungle, convocando o veterano de mecânica questionável e ex-titular "Bengi" para séries importantes — quando "Blank", um novato habilidoso que não passa tanta confiança, apresentava falhas — conferiu à T1 um número de vitórias que, de outra forma, a equipe provavelmente não teria conquistado. "Faker" ajudou a dar destaque a alguns desses nomes menores, em especial aos junglers, mas negar o impacto de "Kkoma" neste aspecto parece insensato.

O domínio defensivo de Belichick

Um aspecto de análise difícil para os fãs de Brady parece ser o lado defensivo. Ao contrário de League of Legends, em que cada jogador está presente em todas as partes do jogo, Brady só participa do lado ofensivo do futebol americano. Quando se trata da defesa, que de acordo com o clichê "vence campeonatos", Brady é apenas um espectador da partida, como o resto de nós. Também podemos ressaltar aqui a questão das equipes especiais, que são frequentemente ignoradas, mas se mostram decisivas. Nestas equipes, estão apenas jogadores selecionados, caso em que Brady também é deixado como observador.

Defensivamente, o New England Patriots tem se mostrado uma das melhores equipes da história da NFL, considerando que todos os seus seis títulos no Super Bowl vieram com uma defesa classificada entre as dez primeiras em métricas específicas e, em muitas ocasiões, sendo uma das defesas de elite em toda a liga. Isso permitiu que Brady jogasse com certa frequência em uma posição de campo melhor no ataque do que quarterbacks rivais importantes, como Manning, Rodgers e Brees, às vezes até mesmo de forma surpreendente. Essas defesas também ajudaram a segurar os rivais, enquanto os jogadores adversários costumam ter defesas mais fracas, facilitando o avanço de Brady em direção aos pontos.

Poucas pessoas se lembram que Belichick conquistou dois campeonatos como coordenador de Defesa do New York Giants no final dos anos 1980. Neste aspecto, sua força vai muito além do que ter um quarterback agindo do outro lado do campo.

Essa é a chave não só para entender as vantagens que Brady recebeu de sua equipe (e treinador), mas também para identificar como os quarterbacks adversários foram colocados em uma situação mais complicada durante os jogos. Belichick conseguiu guiar Brady na conquista de um Super Bowl em que o ataque marcou apenas 13 pontos. Isso porque suas estratégias defensivas foram esmagadoras e aplicadas em uma época de ataque aparentemente ilimitado (ao passo que as mudanças na regra em meados dos anos 2000 prejudicaram as defesas).

Poucas pessoas se lembram que Belichick conquistou dois campeonatos como coordenador de Defesa do New York Giants no final dos anos 1980. Neste aspecto, sua força vai muito além do que ter um quarterback agindo do outro lado do campo.

Mesmo em alguns dos Super Bowls nos quais Brady realizou sequências ofensivas brilhantes, como as vitórias sobre o Seahawks e o Falcons, o jogo base da defesa nos momentos finais dessas partidas foi primordial para o sucesso da equipe.

Ajuda à disposição

Belichick e "Kkoma" também forneceram às suas respectivas estrelas alguns dos melhores talentos com os quais jogaram durante suas carreiras. "Faker" teria muito menos títulos nacionais se não tivesse na equipe nomes como "Duke", "Teddy", "Mata" e "Peanut". Da mesma forma, não podemos deixar de citar talentos estelares como Randy Moss, Rob Gronkowski e Wes Welker ao longo da carreira de Brady, mesmo que ele não tenha conquistado um anel do Super Bowl enquanto jogou com dois deles.

Embora Brady tenha conseguido aproveitar jogadores menos experientes para vencer no mais alto nível, um feito comparável a algumas das vitórias de "Faker", Belichick desempenhou um papel importante ao fazer com que esses jogadores entendessem "o estilo do Patriots" e "fizessem seu trabalho". Portanto, vale ressaltar o papel de Brady como kicker.

Durante suas passagens pelo Patriots, Adam Vinatieri e Stephen Gostkowski se estabeleceram como dois dos melhores kickers, tanto da liga quanto da história do esporte. Esse poder de chute, que se estendeu por boa parte de duas décadas, foi o diferencial que permitiu a Brady vencer uma série de jogos acirrados. Belichick chegou a chamar Vinatieri de "melhor jogador do time" em algum momento da primeira vitória da equipe no Super Bowl.

O treinador também é considerado incomum no cargo, tendo trabalhado operacionalmente como gerente geral da equipe e sendo capaz de exercer um enorme impacto sobre a composição do time de uma forma que a maioria dos treinadores geralmente não consegue.

Assumir a liderança prova alguma coisa?

Embora o recente sucesso de Brady com o Buccaneers no Super Bowl pareça capaz de determinar quem foi mais importante para o Patriots, se o atleta ou Belichick, esta é uma questão muito mais delicada do que pode parecer à primeira vista. Brady apresentou-se para uma equipe sem um histórico de muito sucesso, mas com uma das escalações mais potentes da NFL, incluindo futuros jogadores do Hall da Fama (Gronk e Brown) e uma defesa que foi fenomenal nos playoffs contra todos os oponentes. A forma como o time bloqueou Mahomes no Super Bowl, por si só, já roubou o show.

Enquanto isso, alguns jogadores do Patriots desistiram da temporada devido a circunstâncias externas, e o time não contratou um jogador da estatura de Brady entre os melhores quarterbacks. Como resultado, o papel de Belichick nessa equação permanece um mistério pós-Brady neste momento.

No LoL, as vitórias mudam de lado rapidamente. "Faker" conquistou três novos títulos em ligas domésticas sem "Kkoma", mas nenhum campeonato mundial. Enquanto isso, "Kkoma" acaba de ganhar seu primeiro título sem "Faker". O que complica as coisas é que "Kkoma" treina a melhor equipe coreana da atualidade, a DAMWON, que já conquistou um título mundial antes da chegada do treinador e conta com alguns dos melhores jogadores do mundo na escalação. No momento, "Kkoma" parece destinado a assumir a liderança no número de títulos de campeonatos mundiais conquistados, mas não necessariamente devido ao tipo de impacto que teve na T1, espelhando a temporada de Brady com o Buccaneers (que foi uma de suas piores disputas pelo título).

O equilíbrio de poder

No início, me perguntei se "Kkoma" teria alcançado o sucesso simplesmente por ter se deparado com o melhor talento individual da história do League of Legends. No entanto, suas muitas reinvenções da T1 desde então, e o fato de que treinadores igualmente bem-sucedidos sofrem com a impossibilidade de obter mais do que títulos de campeonatos nacionais de "Faker", podem indicar que sua alegação de que é o melhor mundo com certeza é legítima.

Se tivesse que escolher entre os dois, eu diria que "Faker" é um jogador melhor do que "Kkoma" é treinador, mas a parceria entre eles rendeu muitos benefícios e é corretamente reconhecida como um exemplo de sucesso mútuo.

Em se tratando dos cálculos para a NFL, não tenho medo de criar polêmica e acredito que Belichick foi a figura significativamente mais impactante em sua parceria extremamente bem-sucedida com Brady. Seu controle sobre a escalação e o trabalho no estabelecimento da defesa foram essenciais para o sucesso do time no Super Bowl. Ao mesmo tempo, os dois alcançaram tantas vitórias juntos que, mesmo que se tente imaginar outro grande quarterback ocupando o posto de Brady, é difícil dizer que o time teria vencido mais Super Bowls – até porque, muitas das vitórias do Patriots em Super Bowls foram tão acirradas que a parceria Brady-Belichick poderia facilmente ter vencido muito menos.

Ambos os jogadores tiveram seus momentos no topo de seus respectivos esportes, ficaram famosos pela sua capacidade de produzir grandes resultados sob pressão e foram capazes de fazer uso dos talentos de grandes estrelas. Porém, sem seus treinadores, ambos provavelmente teriam conquistado menos títulos. De forma polêmica, acredito que isso seja mais verdade para Brady do que para "Faker".

Por fim, os quatro fizeram por merecer seus status como candidatos ao título de G.O.A.T em suas respectivas funções.

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Sobre o autor

Duncan Shields

Duncan "Thorin" Shields é nosso historiador dos e-sports, tendo trabalhado na indústria em jogos como Counter-Strike, League of Legends e StarCraft desde 2001. Jornalista renomado e analista de estúdio, Thorin empresta sua ampla experiência para uma nova coluna da Pinnacle.

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